MENSAGEM

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Igreja , o novo Corpo de Cristo - (Homilia Dominical Solenidade de Pentecostes)

domingo, 17 de maio de 2020




A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1, 5).

Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo (Jo 9, 5).

Comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade (Ef 5, 8-9).
As metáforas da luz e da escuridão podem ser aplicadas a muitas coisas. Elas evocam habilidades, deficiências, motivações, esperanças e medos primordiais da humanidade. Dizem muito sobre o que as pessoas têm enfrentado durante a crise da COVID-19

Está claro que vivemos um período de obscuridade. As pessoas estão preocupadas com a possibilidade de contrair o vírus, estão ansiosas por causa de sua saúde e da de outras pessoas, sentem-se intimidadas e tristes pelas exigências (sem dúvida legítimas!) de distanciamento social e estão aflitas por causa do colapso econômico e das graves consequências que ele trará consigo.
Há muita escuridão neste momento. Ninguém questiona isso. Antes de dizer algo sobre a presença da luz na situação atual, talvez venham a calhar umas palavras sobre o contraste entre luz e escuridão.




Muitas vezes passo as férias numa residência familiar próxima ao Lago Huron. Uma das muitas coisas que são diferentes naquela região do “Norte”, Michigan, é a radical mudança que ocorre ao cair da noite e, depois, ao nascer do sol. Quando anoitece, as estrelas resplandecem por causa da intensa escuridão; além disso, é possível ver um número muito maior delas do que no lugar onde moro. Então, bem cedo, durante o amanhecer no verão, o sol nasce sobre o Lago Huron e, em seguida, aparentemente se move em direção ao pé da minha cama. Ele fica tão brilhante e quente, que se torna impossível dormir sem fechar as cortinas, coisa que nunca faço. Nunca desejaria perder o amanhecer, por penosas que possam ser algumas manhãs.

O contato com extremos desse tipo ilustra o nítido contraste entre luz e escuridão. E até certo ponto ele nos proporciona uma boa imagem enquanto meditamos sobre a segunda leitura (cf. Ef 5, 8-14) e o Evangelho da Missa do 4.° Domingo do Advento (cf. Jo 9, 1-41), supracitados.
A imagem da “escuridão” muitas vezes é usada para descrever o mal e a pecaminosidade do mundo, enquanto Jesus é descrito como a “luz do mundo”, a “luz que brilha na escuridão”. E sabemos que no Sermão da Montanha Jesus também diz que devemos ser, como Ele, “luz do mundo”.

No entanto, a experiência ordinária da luz e da escuridão intensas difere da mensagem da Sagrada Escritura, pois revela um contraste entre duas forças aparentemente iguais. O bem e o mal ou, mais precisamente, Deus e Satanás, são forças opostas que disputam o domínio sobre o mundo, sim, mas elas não se equivalem uma à outra. Há religiões que creem nesse tipo de dualidade fundamental na ordem das coisas; essa, porém, não é a fé da Igreja Católica.

Somente o poder de Deus é absoluto. Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o Senhor e Rei do universo. No Evangelho Jesus diz: “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5). As palavras “eu sou” podem facilmente passar despercebidas, mas este é um dos muitos casos no Evangelho de João nos quais Jesus usa a mesma expressão utilizada pelo Senhor no Antigo Testamento para identificar-Se: “EU SOU”. 

Satanás é poderoso, e o pecado tem uma terrível influência neste mundo. O demônio, porém, não deixa de ser uma criatura. Deus é o Criador. Ele não só pertence a uma diferente ordem do ser, como é o próprio ser. Jesus veio tirar a escuridão deste mundo — curou o cego, expulsou demônios, ensinou a verdade sobre Deus e nossas vidas, perdoou pecados, morreu e ressuscitou por nós e deu-nos o dom do Espírito Santo. Ele ilumina o mundo com uma luz sobrenatural e acende uma chama divina nos corações dos que lhe são fiéis.

“Satanás diante do Senhor”, de Corrado Giaquinto (séc. XVIII).
Creio ser particularmente importante reafirmar isso hoje, pois as pessoas estão se sentindo isoladas e o mundo parece muito obscuro. Pode ser fácil alimentar a ideia de que funciona no mundo uma espécie de dinâmica “yin e yang”, com a predominância do bem por um tempo, seguida de uma prevalência do mal.

Não é o que ensina a fé católica, e isso significa que Deus revelou que o mundo funciona de forma bem diferente. Este mundo está decaído. A humanidade escolheu o pecado e foi escravizada por ele. Mas Jesus Cristo veio, obteve a vitória definitiva sobre o pecado e a morte e agora convida todos os que creem nEle a compartilharem sua vitória para sempre. 

Por meio dos membros de sua Igreja, Cristo quer convidar o mundo inteiro a tomar parte em sua vitória. Às vezes, os católicos caem na tentação de achar que foram levados ao time vitorioso por possuírem alguma qualidade especial; assim, acabam desprezando outras pessoas e considerando-as perdedoras. Mas até os membros da Igreja se tornam perdedores quando cedem ao orgulho. E eles podem inclusive se ver “cortados” do “time” de Jesus, se não se levantarem do banco e batalharem por sua própria salvação e a de todos os que estão ao seu redor.

Todos passam por períodos — talvez um dia ruim ou algumas semanas, ou mesmo um ano muito difícil — nos quais a bondade parece ficar eclipsada e a luz da vida parece ter quase se apagado. É fácil ficar deprimido com a situação do mundo hoje. É fácil sentir-se oprimido por uma avalanche de problemas na família ou no trabalho, ou pela doença. Quando enxergam com clareza sua propensão para o pecado e em que medida ele obscurece seus corações, os católicos se sentem inclinados a buscar a luz de Cristo na Confissão. Mas às vezes até pessoas de fé só conseguem ver a escuridão ao seu redor e sentem-se impotentes para fazer qualquer coisa em relação a isso. 
O que você deve fazer se estiver nesse “lugar obscuro”? Eis algumas sugestões:
  • Reconheça sua fraqueza! Às vezes, conselhos de autoajuda bem-intencionados focam na exploração de sua capacidade pessoal, mas a verdade é que nós precisamos do poder de Deus. Isso não é desculpa para a preguiça, mas uma simples verdade sobre a vida: Deus está no comando do mundo, e além de pedir a Ele que assuma o controle de nossas vidas, temos de permitir que o faça.  
  • Agradeça pelos “pontos luminosos” em sua vida. Sempre há coisas pelas quais temos de agradecer, mas com muita facilidade podemos ser absorvidos pelo mal e pelos elementos negativos da vida. 
  • Confie a Ele todas as suas preocupações, pois Ele tem cuidado de você (cf. 1Pd 5, 7). O Senhor é nosso Pastor, como rezamos no Salmo 23. Quando somos tentados a duvidar da presença de Deus e do cuidado que Ele tem por nós e pelas pessoas que amamos, devemos fazer o firme propósito de confiar nEle e pedir-lhe o dom de uma fé ainda mais profunda.  
  • Saiba que Deus o chama e quer fortalecê-lo! Depois de admitir que, sozinhos, somos impotentes, nós nos esvaziamos, mas não para que permaneçamos vazios, senão para que Deus nos preencha com sua vida e poder. Ele dá a cada um de nós uma missão a fim de espalharmos pelo mundo sua cura, paz, verdade e bondade. Todos nós compartilhamos a missão de nos aproximar de Deus e levar outras pessoas a Ele, e Ele a outras pessoas. Se não compreendemos o chamado que Deus nos faz, devemos rezar nessa intenção e pedir essa graça. Também podemos pedir que alguém de nossa confiança nos ajude a descobrir nossas missões específicas. Trabalhar juntos funciona — o cristianismo é um “esporte de equipe”!
Essas são apenas algumas das coisas que podemos fazer para pôr em prática o que São Paulo nos ensina ao dizer: “Comportai-vos como verdadeiras luzes” (Ef 5, 8). O sinal mais seguro de que não estamos sozinhos, e a garantia da luz e do poder de Deus que nos preenchem, está na celebração da Eucaristia. Aquilo que tem aparência de pão e vinho é verdadeiramente a luz e o amor, o Corpo e Sangue do Filho de Deus, dados por nós como bebida e comida.
É verdade que a grande maioria de nós não pode participar da Missa ou receber a Eucaristia nestes dias difíceis. Mas a luz de Cristo ainda está presente nas Missas celebradas pelos sacerdotes em diversos lugares do mundo, nos tabernáculos de todas as nossas igrejas e em cada um de nós, quando oferecemos as nossas vidas ao Pai celestial em união com Jesus e pedimos o dom da comunhão espiritual. Sejamos sempre agradecidos porque Jesus é nosso Pastor e Rei, e porque “de tal modo o Pai amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16).

fonte: padrepauloricardo.org

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