A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam (Jo 1, 5).As metáforas da luz e da escuridão podem ser aplicadas a muitas coisas. Elas evocam habilidades, deficiências, motivações, esperanças e medos primordiais da humanidade. Dizem muito sobre o que as pessoas têm enfrentado durante a crise da COVID-19.
Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo (Jo 9, 5).
Comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade (Ef 5, 8-9).
Está claro que vivemos um período de obscuridade. As pessoas estão preocupadas com a possibilidade de contrair o vírus, estão ansiosas por causa de sua saúde e da de outras pessoas, sentem-se intimidadas e tristes pelas exigências (sem dúvida legítimas!) de distanciamento social e estão aflitas por causa do colapso econômico e das graves consequências que ele trará consigo.
Há muita escuridão neste momento. Ninguém questiona isso. Antes de dizer algo sobre a presença da luz na situação atual, talvez venham a calhar umas palavras sobre o contraste entre luz e escuridão.
O contato com extremos desse tipo ilustra o nítido contraste entre luz e escuridão. E até certo ponto ele nos proporciona uma boa imagem enquanto meditamos sobre a segunda leitura (cf. Ef 5, 8-14) e o Evangelho da Missa do 4.° Domingo do Advento (cf. Jo 9, 1-41), supracitados.
A imagem da “escuridão” muitas vezes é usada para descrever o mal e a pecaminosidade do mundo, enquanto Jesus é descrito como a “luz do mundo”, a “luz que brilha na escuridão”. E sabemos que no Sermão da Montanha Jesus também diz que devemos ser, como Ele, “luz do mundo”.
No entanto, a experiência ordinária da luz e da escuridão intensas difere da mensagem da Sagrada Escritura, pois revela um contraste entre duas forças aparentemente iguais. O bem e o mal ou, mais precisamente, Deus e Satanás, são forças opostas que disputam o domínio sobre o mundo, sim, mas elas não se equivalem uma à outra. Há religiões que creem nesse tipo de dualidade fundamental na ordem das coisas; essa, porém, não é a fé da Igreja Católica.
Somente o poder de Deus é absoluto. Jesus Cristo, o Filho de Deus, é o Senhor e Rei do universo. No Evangelho Jesus diz: “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9, 5). As palavras “eu sou” podem facilmente passar despercebidas, mas este é um dos muitos casos no Evangelho de João nos quais Jesus usa a mesma expressão utilizada pelo Senhor no Antigo Testamento para identificar-Se: “EU SOU”.
Satanás é poderoso, e o pecado tem uma terrível influência neste mundo. O demônio, porém, não deixa de ser uma criatura. Deus é o Criador. Ele não só pertence a uma diferente ordem do ser, como é o próprio ser. Jesus veio tirar a escuridão deste mundo — curou o cego, expulsou demônios, ensinou a verdade sobre Deus e nossas vidas, perdoou pecados, morreu e ressuscitou por nós e deu-nos o dom do Espírito Santo. Ele ilumina o mundo com uma luz sobrenatural e acende uma chama divina nos corações dos que lhe são fiéis.
Não é o que ensina a fé católica, e isso significa que Deus revelou que o mundo funciona de forma bem diferente. Este mundo está decaído. A humanidade escolheu o pecado e foi escravizada por ele. Mas Jesus Cristo veio, obteve a vitória definitiva sobre o pecado e a morte e agora convida todos os que creem nEle a compartilharem sua vitória para sempre.
Por meio dos membros de sua Igreja, Cristo quer convidar o mundo inteiro a tomar parte em sua vitória. Às vezes, os católicos caem na tentação de achar que foram levados ao time vitorioso por possuírem alguma qualidade especial; assim, acabam desprezando outras pessoas e considerando-as perdedoras. Mas até os membros da Igreja se tornam perdedores quando cedem ao orgulho. E eles podem inclusive se ver “cortados” do “time” de Jesus, se não se levantarem do banco e batalharem por sua própria salvação e a de todos os que estão ao seu redor.
Todos passam por períodos — talvez um dia ruim ou algumas semanas, ou mesmo um ano muito difícil — nos quais a bondade parece ficar eclipsada e a luz da vida parece ter quase se apagado. É fácil ficar deprimido com a situação do mundo hoje. É fácil sentir-se oprimido por uma avalanche de problemas na família ou no trabalho, ou pela doença. Quando enxergam com clareza sua propensão para o pecado e em que medida ele obscurece seus corações, os católicos se sentem inclinados a buscar a luz de Cristo na Confissão. Mas às vezes até pessoas de fé só conseguem ver a escuridão ao seu redor e sentem-se impotentes para fazer qualquer coisa em relação a isso.
O que você deve fazer se estiver nesse “lugar obscuro”? Eis algumas sugestões:
- Reconheça sua fraqueza! Às vezes, conselhos de autoajuda bem-intencionados focam na exploração de sua capacidade pessoal, mas a verdade é que nós precisamos do poder de Deus. Isso não é desculpa para a preguiça, mas uma simples verdade sobre a vida: Deus está no comando do mundo, e além de pedir a Ele que assuma o controle de nossas vidas, temos de permitir que o faça.
- Agradeça pelos “pontos luminosos” em sua vida. Sempre há coisas pelas quais temos de agradecer, mas com muita facilidade podemos ser absorvidos pelo mal e pelos elementos negativos da vida.
- Confie a Ele todas as suas preocupações, pois Ele tem cuidado de você (cf. 1Pd 5, 7). O Senhor é nosso Pastor, como rezamos no Salmo 23. Quando somos tentados a duvidar da presença de Deus e do cuidado que Ele tem por nós e pelas pessoas que amamos, devemos fazer o firme propósito de confiar nEle e pedir-lhe o dom de uma fé ainda mais profunda.
- Saiba que Deus o chama e quer fortalecê-lo! Depois de admitir que, sozinhos, somos impotentes, nós nos esvaziamos, mas não para que permaneçamos vazios, senão para que Deus nos preencha com sua vida e poder. Ele dá a cada um de nós uma missão a fim de espalharmos pelo mundo sua cura, paz, verdade e bondade. Todos nós compartilhamos a missão de nos aproximar de Deus e levar outras pessoas a Ele, e Ele a outras pessoas. Se não compreendemos o chamado que Deus nos faz, devemos rezar nessa intenção e pedir essa graça. Também podemos pedir que alguém de nossa confiança nos ajude a descobrir nossas missões específicas. Trabalhar juntos funciona — o cristianismo é um “esporte de equipe”!
É verdade que a grande maioria de nós não pode participar da Missa ou receber a Eucaristia nestes dias difíceis. Mas a luz de Cristo ainda está presente nas Missas celebradas pelos sacerdotes em diversos lugares do mundo, nos tabernáculos de todas as nossas igrejas e em cada um de nós, quando oferecemos as nossas vidas ao Pai celestial em união com Jesus e pedimos o dom da comunhão espiritual. Sejamos sempre agradecidos porque Jesus é nosso Pastor e Rei, e porque “de tal modo o Pai amou o mundo, que lhe deu seu Filho único” (Jo 3, 16).
fonte: padrepauloricardo.org
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